A eleição presidencial será decidida em um
segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o
presidente Jair Bolsonaro (PL), de acordo com dados do TSE. Com cerca de 79%
das urnas apuradas até 20h21, Lula havia recebido 43,08 milhões de votos
válidos, ou 46,03% do total contabilizado pela Justiça Eleitoral até aquele
momento. O presidente e candidato à reeleição havia recebido 41,9 milhões de
votos, ou 45%% do total.
O segundo turno ocorre quando nenhum candidato
consegue atingir a maioria da soma total dos votos computados. O encontro entre
os dois principais rivais está marcado para o dia 30 de outubro, último domingo
deste mês. A realização da segunda etapa do pleito frustra principalmente a
campanha do petista, que, na reta final do primeiro turno, investiu na defesa
pelo voto útil na intenção de encerrar a disputa neste domingo, 2.
Em retórica de contestação das pesquisas
eleitorais – cujos resultados vão se confirmando nas urnas –, Bolsonaro dizia
que a eleição se encerraria na primeira fase e seria ele o vencedor. Como
mostravam as sondagens, e agora os números oficiais, o prognóstico não se
realizou. O presidente reiteradamente colocou em xeque o sistema eleitoral.
Mais de 156 milhões de brasileiros estavam
aptos a votar e, de novo, colocaram entre os dois primeiros colocados um
petista e Bolsonaro. Neste ano, Lula chegou à frente e é apontado, segundo
pesquisas de intenção de voto, como o favorito para voltar à Presidência. Em
2018, Bolsonaro liderou a corrida e venceu Fernando Haddad (PT), que substituiu
Lula nas urnas em razão de o ex-presidente cumprir pena na Polícia Federal, em
Curitiba.
O petista havia sido condenado pelo ex-juiz
Sérgio Moro no caso do tríplex do Guarujá (SP) no âmbito da Lava Jato. A
operação revelou o esquema de desvios na Petrobras. Lula passou 580 dias na
cadeia, e o tema corrupção se torno espinhoso para o petista na atual campanha.
Em 2021, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou
todas as condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná. O plenário
referendou, por oito votos a três, a decisão de Fachin. Neste domingo, o
petista relembrou o tempo na cela.
“Há quatro anos atrás eu não pude votar porque
eu tinha sido vítima de uma mentira neste país e eu estava detido na Polícia
Federal exatamente no dia da eleição”, disse Lula ao votar em São Bernardo do
Campo, no ABC paulista. “Tentei fazer com que a urna fosse até a cela para eu
votar, não levaram. E quatro anos depois eu estou aqui, votando com
reconhecimento da minha total liberdade e com a possibilidade de voltar a ser
presidente da República deste país”, afirmou o petista, que se disse “muito
feliz”.
Já Bolsonaro se mostrou confiante neste domingo
e voltou a dizer que seria reeleito ao apelar a uma narrativa baseada na dúvida
das informações. “Tenho certeza de que, em uma eleição limpa, ganharemos com no
mínimo 60% dos votos”, afirmou o presidente ao votar no Rio. Ele também afirmou
que a eleição representa uma “luta do bem contra o mal” e disse que, “com
eleições limpas, tudo bem, que vença o melhor”.
Nesse contexto, a radicalização – de ambos os
lados – foi a marca desta eleição presidencial, com violência, agressões e
mortes. Além do clima tenso nas ruas e nas redes sociais, os embates assumiram
o protagonismo, o que colocou de lado os projetos de País dos candidatos. Lula,
por exemplo, não apresentou versão final do programa de governo ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) sob a justificativa de não criar desconforto com
aliados.
O centro político não logrou êxito, apesar de a
chamada terceira via ter apresentado ao País a candidatura da senadora Simone
Tebet (MDB-MS), em coligação com PSDB e Cidadania. Isolado, Ciro Gomes (PDT),
em sua quarta disputa, fala em deixar a cena política.
Nos debates em que os candidatos estiveram
frente a frente, Lula acenou a Ciro e a Simone – ainda que ambos tivessem feito
duros ataques às gestões petistas, inclusive com denúncias de corrupção e
crítica à recessão registrada no governo Dilma Rousseff (PT), alvo de
impeachment em 2016. Nos bastidores, interlocutores do PT também conversam com
nomes do PDT e do MDB – uma ala do partido, inclusive, já declarou voto no
petista no primeiro turno.
Esse espectro de apoios é fundamental para
definir o segundo turno e a formação de um eventual governo Lula. No sábado,
1º, o petista já sinalizava a necessidade de ampliar o leque de apoio, até
agora majoritariamente formado por partidos de esquerda e líderes do centro. “A
gente não tem de ficar com melindre de conversar com quem quer que seja. Nosso
barco é que nem a Arca de Noé. Basta querer viver para entrar lá dentro e nós
iremos salvar todo mundo”, disse Lula, em entrevista coletiva.
Já Bolsonaro dificultou o diálogo que poderia
estabelecer com Soraya Thronicke (União Brasil), ao expor a candidata no debate
promovido pela TV Globo. Em 2018, a senadora foi eleita declarando apoio ao
então candidato à Presidência. Luiz Felipe d’Avila (Novo) já avisou que vai
anular o voto. Enquanto isso, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab,
manteve em aberto uma possibilidade de conversa com qualquer candidato que
vença as eleições. Ele destacou as alianças que o partido tem no âmbito
estadual com o PT, por exemplo. “O PSD, felizmente, é um partido de centro,
partido do diálogo. Nós temos uma excelente relação com o Partido dos
Trabalhadores, aliança em diversos Estados com eles. Então, é mais do que
natural um diálogo”, disse após a votação em um colégio da zona oeste da cidade
de São Paulo, na manhã deste domingo, 2.
Graziella Testa, doutora em Ciência Política
pela Universidade de São Paulo (USP), acredita em um segundo turno sem
confrontos detalhados sobre propostas de governo. “Um segundo turno tão
polarizado desse jeito dificilmente terá discussão em torno de políticas
públicas. A tendência é de que seja uma campanha sobretudo de acusações para
tentar atrair o voto estratégico do eleitor que rejeita um outro candidato”,
disse.
Para a professora do Departamento de Ciência
Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Nara Pavão, a tendência é
que os candidatos foquem em locais onde o desempenho no primeiro turno ficou
abaixo do esperado. “O Sudeste terá uma disputa acirrada porque é uma região
estratégica. Mas eles devem evitar áreas onde já têm apoio consolidado. Então
Lula vai, em geral, evitar o Nordeste”, avaliou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário