domingo, 4 de julho de 2021

Gesto do governador Eduardo Leite divide comunidade LGBTQIA+

 


Após assumir-se gay no programa Conversa com Bial, exibido na madrugada de ontem, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de 36 anos, despertou um grande debate. Se de um lado obteve apoio de aliados e de adversários, pois enxergam que a manifestação não pertence a grupos políticos, mas a toda a sociedade — e que é positivo ampliar o escopo com a presença de novos e variados atores —, de outro recebeu críticas por verem no gesto apenas uma forma de se cacifar para um voo mais alto na vida pública. Isso porque o governador é pré-candidato à Presidência da República, em 2022, pelo PSDB, numa disputa que tem ainda o governador de São Paulo, João Doria, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio Neto.

Foi a primeira vez no país que um chefe de governo estadual fala publicamente sobre sua intimidade. Leite, em poucas horas, ganhou mais de 120 mil seguidores no Instagram e apareceu com mais menções positivas do que negativas nas mídias sociais, além de liderar os assuntos mais comentados, ontem, no Twitter.

Ciente de que um candidato com a bandeira da igualdade seria capaz de galvanizar apoios da comunidade gay contra sua candidatura, pois não se sente representada por seu governo, o presidente Jair Bolsonaro foi ao ataque. Disse aos apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada, que o governador busca um cartão de visitas para as próximas eleições e que “está se achando o máximo” ao ter falado publicamente da vida íntima na tevê.

“O cara está se achando o máximo. Bateu no peito: ‘Eu assumi’. É um cartão de visita para a candidatura dele. Ninguém tem nada contra a vida particular de ninguém. Agora, querer impor o seu costume, o seu comportamento para os outros, não”, bradou Bolsonaro, que, ainda deputado, deu entrevistas relatando que preferia um filho morto a um gay.

Cobranças

Isso não impediu que o governador fosse severamente questionado pela comunidade gay por seu apoio a Bolsonaro nas eleições de 2018, quando anunciou ter votado nele, no segundo turno — justificou, então, que não poderia deixar o PT voltar ao poder. Na época, o presidente já tecia comentários preconceituosos e seus apoiadores disseminaram várias fake news contra os grupos LGBTQIA+ pelas redes sociais.

Em abril, Leite solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que obrigasse o presidente a explicar declarações dadas em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, no começo de março. Na ocasião, referindo-se ao governador gaúcho, Bolsonaro disparou. “Onde ele enfiou essa grana (destinada à saúde no estado)? Eu não vou responder pra ele, né? Mas eu acho que é feio onde ele botou essa grana toda aí”.

Correio Braziliense

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