As férias de verão europeu começam a esquentar,
mas o continente “caminha sobre gelo fino”, para usar a expressão escolhida
pela primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, em referência à expansão da
variante delta. O mutante, cuja capacidade de infecção é no mínimo o dobro da
do Sars-Cov-2 original, levou apenas um mês para se tornar dominante no Reino
Unido, primeiro país da Europa a que chegou, em abril.
Em seguida, atravessou o canal da Mancha e hoje
está em todos os países acompanhados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na
Europa. Na previsão de especialistas, a variante delta pode ser responsável por
70% dos novos casos da Europa em agosto e 90% em setembro, tornando a próxima
estação ainda mais sombria.
O risco é de “um ressurgimento mortal no
outono” segundo o diretor regional da entidade, Hans Kluge. Ele aponta para a
combinação entre uma variante mais contagiosa e a maior interação humana: 36
dos 53 países acompanhados pela entidade retiravam restrições no começo deste
mês.
A liberação de viagens turísticas lotou
aeroportos, aviões e trens, e grandes eventos voltaram a acontecer. Nas últimas
duas semanas, o Festival de Cinema de Cannes reuniu 28 mil inscritos, sem
contar os milhares de pedestres que se aglomeraram nas calçadas na esperança de
ver celebridades.
De acordo com relatório divulgado nesta quarta
(21) pela OMS, o número de novos casos no continente, que começou a subir na
virada de julho, saltou 21% na última semana, embora o número absoluto esteja
em patamar muito inferior ao do auge da pandemia.
Internações hospitalares e mortes continuam sob
controle, mas Kluge diz que essa aparente bonança pode ser uma ilusão. “Já
estivemos aqui antes. No verão passado, os casos começaram a crescer entre os
mais jovens e deles passaram aos mais velhos, levando a uma devastadora perda
de vidas no outono e no inverno. Não podemos cometer esse erro novamente”,
afirmou.
O acesso a vacinas é uma diferença fundamental
entre 2020 e 2021, mas a porcentagem de europeus completamente imunizados ainda
está longe de oferecer segurança: na média, só 20% tomou todas as doses
recomendadas.
“Vimos algumas evidências de escape
imunológico, especialmente após apenas uma dose da vacina. Nossa avaliação é
que isso representa um risco significativo em termos de transmissão na
comunidade”, disse a responsável por emergências da OMS-Europa, Katy Smallwood.
A atual situação do Reino Unido mostra que não é exagero. Nação europeia mais
avançada na vacinação, o país já deu as duas doses a quase 70% de seus adultos.
Ainda assim, tanto o número de casos quanto o de mortes está em alta desde que
o governo começou a retirar restrições antipandemia.
Nas últimas quatro semanas, os diagnósticos
semanais triplicaram entre os britânicos, e os óbitos mais que dobraram. O
Reino Unido foi o vice-líder mundial nos novos casos semanais, com quase 300
mil e uma alta de 41%, bem perto da Indonésia, que passa por uma crise
sanitária.
Apesar disso, o governo manteve o “Dia da
Liberdade” nesta segunda, permitindo a reabertura praticamente total, inclusive
de casas noturnas. Na última semana, conselheiros científicos alertaram o primeiro-ministro
britânico, Boris Johnson, para o risco de que o NHS (sistema público de saúde)
fique sobrecarregado até o final de agosto.
Nos cálculos dos cientistas, o ritmo atual da
pandemia pode passar de cerca de 800 hospitalizações por dia a até 2.000 no
final do próximo mês, com até 200 mortes diárias. Enquanto o Reino Unido avança
com sua reabertura, Grécia, Portugal, Espanha e França começam a reimpor
restrições.
O caso mais gritante é o da Holanda, onde o
número de novos casos diários se multiplicou por sete. No último sábado, o
governo reimpôs um toque de recolher para coffee-shops e bares e proibiu o
funcionamento de casas noturnas. Boa parte de Portugal e a região espanhola da
Catalunha também adotaram limites de horário para restringir a circulação
noturna.
O uso obrigatório de máscaras e toques de
recolher foram adotados no sudoeste francês e na Córsega, e o presidente
Emmanuel Macron anunciou que seria obrigatório apresentar um certificado de
vacinação completa para frequentar restaurantes, cafés, cinemas, teatros e
shoppings, além de transporte coletivo.
As novas regras provocaram uma disparada nas
reservas para aplicação de vacina, mas também uma onda de protestos nas ruas, e
o governo pode ser forçado a reduzir multas e flexibilizar algumas limitações. Mesmo
na Alemanha, onde a pandemia está em ritmo muito mais lento, o Ministério da
Saúde manteve a proibição de reuniões de mais de 10 pessoas para os não
totalmente imunizados. O governo também afirmou que o levantamento de
restrições em nível nacional dependerá do avanço na vacinação.
(Bahia Notícias)