Evento estudantil
volta a ter a presença de um presidente após 14 anos.
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva participou, na noite desta quinta-feira (13), em Brasília,
do 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). A última vez que um
presidente da República compareceu ao evento foi em 2009, quando o próprio
Lula, durante seu segundo mandato, esteve no encontro estudantil. O Congresso
da UNE, ou Conune, como costuma ser chamado, é considerado o maior encontro de
estudantes da América Latina e deverá reunir cerca de 10 mil participantes até
o próximo domingo (16) na capital federal.
No evento, o
presidente prometeu ampliar o número de universidades e outras instituições de
ensino no país. “Nós vamos voltar a fazer mais universidades, a fazer mais
escolas técnicas, mais laboratórios, vamos nos reunir com reitores e com os
estudantes, vamos outra vez colocar o pobre no orçamento da União”, garantiu
diante de um ginásio Nilson Nelson cheio. Tal promessa já havia sido feita
durante a campanha eleitoral, em 2022.
Durante a cerimônia,
representantes das entidades estudantis leram e entregaram uma carta de
reivindicações ao presidente. Entre os principais pontos, estão a manutenção da
política de cotas e ampliação do direito de acesso para indígenas e pessoas
trans, a criação da Universidade de Integração da Amazônia e a aprovação de uma
lei para instituir o Programa Nacional de Assistência Estudantil. Além disso, a
UNE reiterou, no documento, o pedido para que o governo revogue o Novo Ensino Médio,
demanda repetida diversas vezes pelos estudantes em palavras de ordem gritadas
no ginásio.
Em seu discurso, Lula
também exaltou o vigor do movimento estudantil. “O que motiva a vida humana e o
que motiva a nossa capacidade de ser melhor ou não é se a gente tem uma causa
ou não tem uma causa”, afirmou. “Eu acho extraordinário a UNE apresentar uma
pauta de reivindicações longa, árdua e apimentada”, acrescentou.
Falando diante de uma
plateia de milhares de jovens, Lula celebrou que o perfil social dos estudantes
tenha mudado ao longo da última década, com o ingresso de pobres e negros nas
universidades, especialmente a partir dos programas criados em seus governos
anteriores. “Aqui não tem apenas filho de gente rica, aqui tem filho de
pedreiro, de empregada doméstica, aqui tem filho de metalúrgico, de químico, de
gráfico. Aqui está a filha e o filho do povo brasileiro, com a nossa cara”.
Defesa da democracia
O presidente ainda fez
uma defesa enfática da democracia, citando as ameaças de ruptura do último
período. “Há muito pouco tempo, vocês conheceram o que é o fascismo, o nazismo,
apenas em quatro anos. Como é que se pode destruir a democracia e as conquistas
que a gente, às vezes, leva séculos para conquistar? Espero que tenhamos
aprendido uma lição, a de que a democracia pode não ser a coisa mais perfeita
que humanidade criou, mas não tem nada igual a ela. É na democracia que a gente
pode viver a pluralidade, a diversidade, que a gente pode aplaudir, a gente
pode vaiar, a gente pode gritar e a gente pode contestar. É na democracia que a
gente vive a plenitude da manifestação do ser humano”, afirmou.
Além de Lula,
participaram do ato político o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, além de
ministros do governo federal, incluindo o ministro da Educação, Camilo Santana.
Em discurso, Mujica, que foi preso político por 14 anos na ditadura uruguaia,
pediu aos estudantes que busquem a unidade para defender a democracia.
“Não cometam o erro do
meu tempo. Quanto mais desunidos, mais dominados vamos estar. Portanto,
estudar, não perder tempo, cuidar da democracia. A democracia não é perfeita,
está cheia de defeitos. Mas, até hoje, não encontramos nada melhor”, disse. O
ex-presidente do Uruguai também apelou para que os estudantes deem sustentação
ao governo Lula frente aos desafios de gestão. “Lula é grandioso, mas não é
mago. Aos governos populares, não apenas se pede, mas se ajuda. Os obstáculos
que se têm adiante estão aí e não são simples. É fácil reclamar, mas é preciso
comprometer-se”, afirmou.
Novo Ensino Médio
Em vários momentos
durante o ato, os estudantes entoaram gritos para pedir a revogação da lei que
instituiu o Novo Ensino Médio. Em seu discurso, o ministro da Educação, Camilo
Santana, que chegou a ser vaiado e interrompido por parte dos estudantes,
lembrou que o governo paralisou a implementação do novo modelo até que se
defina eventuais mudanças.
“Eu suspendi a
implantação do Novo Ensino Médio no Brasil. E nós abrimos uma ampla escuta para
ouvir estudantes. Foram 150 mil estudantes que participaram. Nós ouvimos
professores, entidades, secretários”, defendeu-se, ao fazer menção ao processo
de consulta pública aberto pela pasta e que foi encerrado na semana passada.
A lei do Novo Ensino
Médio foi aprovada em 2017, durante o governo do ex-presidente Michel Temer,
com o objetivo de tornar a etapa mais atrativa e evitar que os estudantes
abandonem os estudos.
Pelo modelo, parte das
aulas deve ser comum a todos os estudantes do país, direcionada pela Base
Nacional Comum Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios
alunos poderão escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. Entre as
opções, está dar ênfase, por exemplo, às áreas de linguagens, matemática,
ciências da natureza, ciências humanas ou ao ensino técnico. A oferta de
itinerários, entretanto, vai depender da capacidade das redes de ensino e das
escolas, o que tem sido um dos maiores desafios de implementação da nova etapa.
Em 2023, a
implementação deveria seguir com o 1º e 2º anos e os itinerários devem começar
a ser implementados na maior parte das escolas, mas o cronograma foi suspenso
pelo governo federal até que haja sistematização das propostas da consulta
pública e eventuais ajustes na nova etapa de ensino. A revogação do Novo Ensino
Médio tem sido uma reivindicação de entidades do setor e de muitos
especialistas. Apesar disso, o governo federal não cogitou revogar a medida por
completo, mas fazer ajustes a partir dos resultados obtidos na consulta.
Agência Brasil
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