Pesquisas de intenção de voto divulgadas nos
últimos três meses mostram um avanço do presidente Jair Bolsonaro (PL) em
intenções de voto e recuperação de popularidade, embora o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) continue na liderança e vença em todos os cenários
para o segundo turno.
Em média, o percentual dos que avaliam
positivamente o governo Bolsonaro subiu de 30% para 35% nos primeiros três
meses deste ano. E nas pesquisas de intenção de voto, o presidente cresceu
enquanto Lula se manteve estável.
Levantamento da XP/Ipespe, divulgado no dia 6
de abril, após o ex-juiz Sergio Moro trocar de partido e deixar a disputa para
presidente, mostra Bolsonaro com 30% das intenções de voto, e Lula, com 44%. Na
pesquisa anterior, do mesmo instituto, o presidente aparecia com 26%, e Lula,
com os mesmos 44%.
Outra pesquisa, da Genial/Quaest, também
divulgada em abril, mostra movimento semelhante. Bolsonaro aparece com 31% dos
votos num cenário sem Moro, um avanço de cinco pontos percentuais em comparação
com a pesquisa anterior. Lula se manteve estável, com 45%.
Levantamentos feitos antes da saída de Moro já
indicavam uma recuperação de Bolsonaro. Na última pesquisa Datafolha, divulgada
em 24 de março, Bolsonaro obteve 26% das intenções de voto, contra 43% de Lula.
No levantamento anterior, de dezembro, o ex-presidente tinha entre 21% e 22% e
Lula, entre 47% e 48%.
Com a melhora na popularidade, a consultoria
internacional Eurasia calcula que Bolsonaro passou de uma chance de 20% de
ganhar a eleição, para 25%. Mas o ex-presidente Lula segue na liderança e,
conforme os cálculos da Eurasia, tem, neste momento, 70% de chance de vencer.
“A expectativa é que a disputa fique cada vez
mais apertada conforme avança a campanha. Atualmente, as pesquisas mostram Lula
vencendo Bolsonaro num segundo turno por uma diferença de 15 a 17 pontos
percentuais. Essa margem deve diminuir para algo entre 5 e 10 pontos durante a
campanha”, calcula a consultoria, com base em metodologias da Ipsos Public
Affairs, um dos maiores instituto de pesquisa de opinião do mundo.
Mas o que explica esse avanço de Bolsonaro nas
pesquisas? Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil citaram três fatores
determinantes para esse cenário:
Saída de Moro da disputa
Para o cientista político Felipe Nunes, diretor
da Quaest Pesquisa e Consultoria e professor de métodos quantitativos da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que a saída do ex-juiz Sergio
Moro da disputa foi o fator determinante para o crescimento de Bolsonaro nas
pesquisas.
Depois de ser anunciado candidato pelo partido
Podemos, Moro decidiu deixar a legenda e se filiar ao União Brasil (fusão do
DEM com o PSL), dizendo que estaria desistindo “momentaneamente” da candidatura
à Presidência. Mas, na semana passada o novo partido de Moro decidiu lançar
como candidato o deputado federal Luciano Bivar (PE).
Com isso, ao que tudo indica, Moro, que
aparecia em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com cerca de 8%,
não vai mais disputar a Presidência. Os dois levantamentos feitos após a
desistência do ex-juiz da disputa indicam que Bolsonaro foi quem mais se
beneficiou com isso.
“O eleitor que votou em Bolsonaro em 2018, mas
estava insatisfeito com o governo, procurou uma terceira via, não encontrou e
agora está voltando para Bolsonaro”, disse Nunes à BBC News Brasil.
“Chamo isso de ‘a volta dos que nunca foram’.
São pessoas que tinham uma insatisfação momentânea, que rejeitam o PT, e que,
diante da ausência de uma terceira via forte, voltam a considerar o voto em
Bolsonaro.”
Segundo Nunes, uma das pesquisas Genial/Qauest
indicou que a maioria dos eleitores de Moro viam Bolsonaro como segunda
alternativa, e vice-versa.
“Há dois meses ou três meses a gente fez uma
pergunta que era: se o seu candidato não puder/quiser ser candidato em quem
você votaria? O eleitor do Lula tem Ciro Gomes como segunda opção, enquanto o
eleitor de Moro tem Bolsonaro como segunda opção”, diz.
“A saída do Moro da disputa foi determinante
para o crescimento de Bolsonaro.”
‘Pacote de bondades’
Já a cientista política Carolina de Paula,
especialista em comportamento eleitoral, aponta o Auxílio Brasil e demais
promessas ou benefícios concedidos por Bolsonaro a populações de baixa renda
como fator determinante do crescimento dele nas pesquisas de opinião.
A pesquisadora, que é diretora do Instituto de
Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, lembra
que é comum que candidatos a reeleição passem a conceder isenções ou benefícios
sociais capazes de elevar a sua popularidade. Esse conjunto de medidas em ano
eleitoral costuma ser chamado de “pacote de bondades”.
No caso de Bolsonaro, três medidas do governo
teriam contribuído especialmente para a melhora na sua avaliação. Segundo
Carolina de Paula, a primeira foi a criação, no final do ano passado, do
Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que o governo instituiu para
substituir o Bolsa Família e que paga cerca de R$ 400 por mês a cerca de 18
milhões de famílias. A criação do programa foi alvo de controvérsia, com muitos
críticos afirmando que ele teria caráter eleitoreiro.
Outras medidas que podem ter rendido maior
popularidade a Bolsonaro foram a autorização de saque de até R$ 1.000 do FGTS
no final do ano passado e a antecipação do 13° salário dos aposentados.
“Quando você olha de fevereiro para cá, os
dados realmente dão um salto. Um dos fatores concretos são algumas medidas que
o governo colocou de pé, como o Auxílio Brasil, o saque do FGTS, a antecipação
do 13° salário dos aposentados. Tem uma série de ações que o governo costuma
fazer no último ano de mandato, que a gente chama de ‘pacote de bondades’ e que
costuma render esse crescimento no início do ano eleitoral”, diz Carolina de
Paula.
A consultoria Eurasia Group também atribui a
melhora na avaliação de Bolsonaro “à modesta recuperação do poder de renda” da
população mais pobre nos primeiros meses deste ano devido a medidas pontuais.
“No segundo semestre de 2021, a renda real no
Brasil caiu 11%, impulsionada por um aumento inflacionário maior do que o previsto,
que atingiu duramente as famílias de baixa renda. Mas no início de 2022 essas
famílias recuperaram parcialmente a renda perdida com o reajuste anual de 10%
do salário mínimo nacional, 13º salário para aposentados e algumas medidas
tomadas pelo governo – como o perdão da dívida estudantil e liberação de saques
do FGTS”, diz a consultoria.
Apesar dessa leve recuperação na renda, a
situação econômica do país continua ruim, com alta nos preços dos alimentos e
combustíveis. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
considerado a inflação oficial do país, acelerou para 1,62%, a maior taxa em 28
anos. No acumulado de 12 meses, a inflação já chegou a 11,30%.
Segundo a Eurasia, a principal preocupação do
eleitor nessas eleições será “renda e emprego”, e Bolsonaro precisaria de
avanços mais substanciais nos indicadores econômicos para continuar crescendo
nas pesquisas.
“Para Bolsonaro continuar a se recuperar, a
economia terá que superar as expectativas do mercado para esse ano”, avalia a
consultoria.
Fase melhor da pandemia
Carolina de Paula cita ainda um terceiro fator
que pode ter contribuído para a subida de Bolsonaro nas pesquisas: a atual fase
da pandemia de covid-19. O Brasil é o segundo país com mais mortes pela covid,
atrás dos Estados Unidos – foram mais de 662 mil óbitos. No pico da doença, o
número de mortos pela doença num único dia chegou perto 4 mil. Atualmente, com
o avanço da vacinação, esse número está abaixo de cem.
Embora Bolsonaro tenha minimizado a gravidade
da pandemia, demorado a comprar vacinas, e se oposto ao uso de máscaras e a
medidas de isolamento social, o atual estágio de maior controle das infecções
gera um ambiente de “otimismo” entre parcela dos eleitores, o que acaba
beneficiando o governante que está no poder, diz a pesquisadora da UERJ.
“O número não tão alto de mortes por covid e a
liberação das máscaras geram um efeito, uma sensação de otimismo. Não acho que
as pessoas esqueceram o que aconteceu, mas no estágio atual da pandemia, elas
tentam ver o lado bom das coisas. A gente trabalha com pesquisa de opinião
qualitativa e as pessoas falam muito disso, de uma sensação de otimismo.”
Mas Carolina de Paula destaca que as pessoas
“não esqueceram” o sofrimento e o elevado número de mortes por covid-19. “A pandemia
acabou ficando em segundo plano com a visibilidade dada pela imprensa à guerra
na Ucrânia. Mas não houve um esquecimento por parte da população. Essa memória
ainda pode ser ativada. As campanhas eleitorais ainda não começaram
oficialmente e esse tema vai ser explorado.”
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