Uma mobilização
discreta tem acontecido nos bastidores do Congresso desde o último trimestre de
2021. O esforço é para a votação do Projeto de Lei 442/91, cujo regime de
urgência foi aprovado na Câmara dos Deputados às vésperas do recesso
parlamentar, em 16 de dezembro.
O PL propõe trata da legalização da exploração econômica do jogo no país, proibida desde abril de 1946, por decisão do presidente Eurico Gaspar Dutra. Uma reportagem da Veja diz que no início da semana, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), se comprometeu com o relator Felipe Carreras (PSB-PE) a levá-la ao plenário até o início de março. O problema é que o tema é altamente controvertido dentro do governo.
O presidente Jair Bolsonaro já se disse contrário à aprovação. Ele teme o impacto que isso possa provocar entre seus apoiadores mais conservadores e religiosos.
Segundo a Veja, o
grupo de simpatizantes da legalização tem cacife e nomes de peso, incluindo Lira,
o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, os integrantes do Ministério da
Economia, do Turismo, e até os filhos do presidente, Flávio e Eduardo
Bolsonaro, que se reuniram com o ex-presidente americano Donald Trump para
tratar do apoio na atração de investimentos da indústria de cassinos americana
para o Brasil.
Já do lado oposto tem a base evangélica no Congresso, que se posiciona pela manutenção da proibição, assim como a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. “Sou contra a legalização dos jogos de azar porque temo que essas casas de jogos sejam usadas para esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro”, diz Damares. “A liberação dos jogos não é a única alternativa que temos para gerar empregos no Brasil.”
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) deixa claro seu voto. “Se o tema for a plenário, o governo encaminhará voto contra.” Dados apresentados pela Veja mostram que entre as nações que fazem parte do G20, a organização que reúne 80% da economia global, apenas três países proíbem a exploração dos jogos — Brasil, Arábia Saudita e Indonésia, os dois últimos muçulmanos.
Segundo essas informações, em um cenário de dificuldades econômicas como o atual, os dados compilados pela Frente Parlamentar Mista organizada para discutir o assunto impressionam. A legalização dos jogos no país teria o potencial de gerar 658 000 empregos — entre os anos 1930 e 1940, o auge dos cassinos no Brasil, o setor garantia mais de 40 000 postos. “Em um país que precisa desesperadamente criar empregos e que há décadas tem crescimento estagnado, não há justificativa para que o jogo continue na ilegalidade”, argumenta o deputado Bacelar (Podemos-BA), presidente da frente parlamentar.
Para o setor de turismo, as perspectivas de expansão são fundamentadas na experiência internacional, particularmente na Ásia. “Macau recebia 10 milhões de turistas antes dos investimentos em cassinos e passou a receber 31 milhões. Singapura foi de 9 milhões a 21 milhões de turistas. São êxitos que mudaram a matriz do fluxo turístico internacional”, diz Carreras, relator do projeto na Câmara. “O Brasil é carente em novos produtos turísticos e nosso contingente de visitantes estrangeiros segue estagnado abaixo de 7 milhões.”
A Veja ressalta que o país perde em arrecadação de impostos com a ilegalidade e com operações que são baseadas — e tributadas — em outros países. Estima-se que o jogo ilegal movimente 27 bilhões de reais por ano, frente aos 17,8 bilhões de reais das lotéricas. E, em 2018, foi aprovada uma lei para a liberação do mercado de apostas virtuais, que tem data-limite para ser regulamentada até o fim deste ano.
Os defensores do jogo, entre eles integrantes do Ministério da Economia, acreditam que o desfecho mais provável envolverá um certo jogo de cena. O presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista a VEJA no ano passado que, caso o projeto fosse aprovado pelo Congresso, ele vetaria. Mas auxiliares próximos admitem que, mesmo que isso aconteça, se trata de um posicionamento para agradar a seus eleitores mais conservadores.
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